Pense nisso:

Estranho é igual sabonete: quanto mais você usa, menor ele fica.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Línguas e Neuroplasticidade

Reportagem da Revista Veja do dia 21 de dezembro de 2011.
Interessa a neurocientistas, professores e estudantes de língua estrangeira e seres humanos em geral.

"Até o início dos anos 90, predominou entre os neurologistas a convicção de que o cérebro tinha sua estrutura rigidamente estabelecida já no final da infância. Eles também estavam certos de que cada região cerebral possuía uma função específica, que não poderia ser exercida por nenhuma outra parte do órgão. Por fim, acreditavam que os neurônios, as células nervosas, quando danificados, não podiam ser repostos. Com a ajuda de tecnologias como a ressonância magnética, que permitiu observar diretamente o funcionamento do cérebro, e os microelétrodos, que captam os sinais elétricos emitidos pelos neurônios durante as sinapses, confirmou-se que a forma do tecido cerebral adquirida nos primeiros anos de vida não é definitiva. Novos neurônios continuam a ser criados ao longo da vida e podem regenerar áreas lesionadas.
As consequências da descoberta da plasticidade cerebral são enormes. O fatalismo neurológico que predominou até recentemente sustentava o conceito de que o indivíduo estava, nesse aspecto, fadado a determinado destino. Quem nascia com deficiências ou limitações teria de conviver com elas até o fim da vida. Para a maioria dos adultos, era impossível aprender outra língua com proficiência. A partir disso, naturalmente se pensava que o caráter de um indivíduo era tão rígido quanto o seu cérebro. As pesquisas feitas por Doidge sobre a fisiologia do cérebro mostram uma realidade totalmente diferente: “A plasticidade afeta o cotidiano de cada um de nós – na dor crônica, no aprendizado, nos distúrbios da mente e nos vícios – e enterra qualquer vestígio de determinismo.”
Um exemplo é a tirania da língua materna. A capacidade plástica do cérebro é competitiva – como se uma querra de nervos estivesse ocorrendo o tempo todo dentro do cérebro. Quando alguém para de exercitar uma habilidade mental, o espaço reservado para essa habilidade é repassado a outra que seja praticada com mais frequência. Isso explica a dificuldade enfrentada por um adulto para aprender novas línguas. A tese convencional é que o cérebro adulto é rígido demais para adaptar sua estrutura à língua estrangeira. A visão atual é que o idioma materno domina o mapa linguístico simplesmente porque é o mais usado – ou seja, a condição é reversível em qualquer idade."

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